Em 2022, Portugal registou uma taxa de 2.542,7 acidentes de trabalho não mortais por 100 mil empregados, posicionando-se entre os países da União Europeia com taxas relativamente elevadas. Este dado evidencia a necessidade de uma análise comparativa com a média europeia para compreender melhor os desafios específicos do país nesta área.
Na União Europeia, a média de acidentes não mortais por 100 mil empregados foi de 1.506 em 2022, refletindo uma tendência geral de diminuição da sinistralidade laboral.
Esta diferença coloca Portugal cerca de 68% acima da média europeia, indicando fatores específicos que contribuem para o elevado número de acidentes no território nacional.
O setor da construção em Portugal é particularmente crítico, sendo responsável por uma parte significativa dos acidentes registados.
Este setor apresenta condições de trabalho exigentes e, por vezes, precárias, o que aumenta o risco de lesões e incidentes graves. Comparativamente, países como Países Baixos, Suécia e Alemanha registam taxas significativamente mais baixas, refletindo investimentos contínuos em segurança, formação profissional e políticas públicas eficazes.
Diversos fatores contribuem para a elevada taxa de acidentes em Portugal, incluindo condições de trabalho menos seguras em alguns setores, fiscalização insuficiente, baixa cultura de segurança e formação inadequada para lidar com riscos específicos.
Estes fatores não só afetam a produtividade, mas também têm um impacto direto na vida dos trabalhadores.
Os acidentes de trabalho implicam consequências económicas e sociais relevantes, como perda de produtividade devido a ausências prolongadas, custos elevados com indemnizações e tratamentos médicos, e encargos adicionais com seguros de saúde e pensões.
Para os trabalhadores, estes acidentes podem significar lesões temporárias ou permanentes, diminuição da qualidade de vida e dificuldades financeiras.
Veja também o nosso post Desafios da Segurança e Saúde no Trabalho na Construção Civil
Portugal possui legislação específica para a segurança no trabalho, e a Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) é responsável pela fiscalização. No entanto, a aplicação nem sempre é eficaz, muitas vezes devido à falta de recursos ou à necessidade de atualização contínua das normas para acompanhar as melhores práticas internacionais.
Em contraste, países como Dinamarca e Finlândia implementaram políticas rigorosas de segurança no trabalho, combinando fiscalização contínua, formação regular e investimentos em tecnologia de prevenção de riscos. Estes exemplos evidenciam que é possível reduzir significativamente a sinistralidade laboral quando existe compromisso institucional e cultural com a segurança.
A mudança cultural é outro aspeto crucial para reduzir a sinistralidade laboral em Portugal. Promover a importância da segurança, responsabilizar empregadores e trabalhadores e criar uma cultura de prevenção são passos essenciais para reduzir os riscos nos locais de trabalho.
Para além da mudança cultural, medidas concretas podem ser adotadas, como reforço da fiscalização, incentivo à formação contínua e promoção de boas práticas, que incluem a partilha de experiências e aprendizados entre empresas.
Organizações que implementaram estas medidas observaram reduções significativas no número de acidentes e melhorias na satisfação e motivação dos trabalhadores.
As entidades públicas têm um papel fundamental na promoção da segurança no trabalho. A elaboração de políticas públicas eficazes, campanhas de sensibilização e a colaboração com organizações internacionais são essenciais para criar um ambiente laboral mais seguro.
A cooperação internacional também é importante, permitindo a troca de informações, harmonização de normas e desenvolvimento conjunto de soluções inovadoras. Esta colaboração fortalece as práticas nacionais e contribui para a melhoria contínua da segurança no trabalho.
Apesar dos desafios persistentes, como resistência à mudança, lacunas na fiscalização e infraestrutura inadequada em alguns setores, Portugal tem a oportunidade de aprender com os exemplos europeus e implementar estratégias eficazes de prevenção.
A importância da segurança no trabalho vai além da proteção física; também está ligada à saúde mental e ao bem-estar geral dos trabalhadores. Ambientes de trabalho mais seguros promovem maior motivação, produtividade e satisfação profissional.
Investir em segurança laboral não é apenas uma questão de cumprimento legal, mas também uma estratégia de gestão eficaz, que reduz custos com acidentes e aumenta a confiança de trabalhadores e parceiros comerciais.
A comparação entre Portugal e a média da União Europeia evidencia a necessidade urgente de políticas robustas, mudanças culturais e investimento em formação e fiscalização.
A implementação destas medidas é essencial para proteger a saúde e o bem-estar dos trabalhadores e alinhar Portugal com os padrões de segurança europeus.