Os incêndios rurais em Portugal constituem uma realidade assustadora que tem provocado várias tragédias e delapidado o património nacional a vários níveis.
Além da perda de vidas e de milhares de hectares queimados, a maior parte das vezes estes acontecimentos não são devidamente debelados com os planos de emergência existentes, que ainda por cima desgastam os bombeiros e outras equipas de combate a incêndios.
Neste cenário é cada vez mais premente que toda a população portuguesa tenha acesso a dados em tempo real sobre a realidade dos incêndios florestais em Portugal, de modo a precaver-se de eventuais percalços e até auxiliar as populações mais isoladas. Precisamente por isso foi criado um serviço realmente útil e acessível nesta matéria.
Os incêndios rurais, em climas mediterrâneos, como é o caso de Portugal, assentam na composição de três fatores essenciais: as condições meteorológicas, a carga combustível disponível e a ignição (que pode ser de ordem natural ou humana).
Num clima mediterrâneo em que os cenários meteorológicos extremos se tornam cada vez mais comuns e com maior gravidade, espera-se assim o aumento significativo do risco de se verificarem incêndios. Uma das causas que potenciam o risco de incêndio é a ocorrência de ondas de calor.
Até ao final do século 21, está previsto um aumento significativo da frequência e intensidade das ondas de calor, nomeadamente, com temperaturas mais altas (mediante o aparecimento de 5 a 8 ondas de calor por ano) e um crescimento da duração (de 20 a 50 dias nos casos mais graves).
Simultaneamente prevê-se o aparecimento de mais episódios de seca prolongada, que quando combinados com o aparecimento de ondas de calor e a acumulação de biomassa combustível, um dos grandes problemas das nossas florestas, incrementam consideravelmente a possibilidade de ocorrerem incêndios, podendo mesmo, atingir grandes dimensões.
Portugal continua a ser um dos países europeus mais afetado pelos incêndios rurais. Segundo estatísticas da PORDATA a verdade é que desde 2010 registaram-se sensivelmente 19 mil incêndios rurais por ano, com uma média anual de 134 mil hectares queimados.
De fato vivemos atualmente um período crítico de aquecimento global que tem aumentado o risco de incêndio florestal em todo o território nacional.
O impacto que estes desastres têm não se prende única e exclusivamente aos prejuízos com o património ambiental, mas também aos graves perigos para o ambiente, saúde e vida das pessoas, assim como à perda de meios de subsistência de muitas pessoas e aos encargos na despesa pública.
É por isso decisivo conceber um plano de combate global e regional, apoiada em princípios de responsabilidade, compartilhada por todos os elementos da sociedade envolvidos e que tenham uma visão ampla e concertada na reação, mitigação e prevenção, tendo como objetivo impedir grandes impactos resultantes dos incêndios.
A nível oficial, foi publicada em Diário da República a Resolução do Conselho de Ministros n.º 45-A/2020 que aprova o Programa Nacional de Ação do Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, o qual está sustentado em quatro regras estratégicas: valorizar os espaços rurais, cuidar do território, modificar comportamentos e gerir o risco eficientemente.
Foi criada há alguns anos atrás a plataforma Fogos.pt uma iniciativa que surge de cidadãos para cidadãos. Esta aplicação regista e mapeia todas as ocorrências em território nacional, com uma atualização a cada 2 minutos e uma localização aproximada.
Neste site pode encontrar informação detalhada acerca dos incêndios que estejam a decorrer ou que se resolveram recentemente, tais como a sua localização, data e hora de início, estado do incêndio e número de bombeiros, viaturas e meios aéreos acionados em cada ocorrência.
Assim sendo, com esta aplicação é possível num curto espaço de tempo saber qual a intensidade de um determinado incêndio.
Além disso, a plataforma Fogos.pt também integra dados meteorológicos e possibilita a categorização de regiões segundo o índice de risco de incêndio, assim como outros avisos ligados aos incêndios, como o corte de estradas.
Toda a navegação no Fogos.pt é bastante simples, sendo utilizado o OpenStreetMap para oferecer uma navegação muito idêntica ao Google Maps.
Além de toda a informação já mencionada é ainda possível escolher entre vista satélite e normal e aplicar filtros de informação (temperatura, pressão, vento, precipitação, nuvens e o risco de incêndio.
Num país como Portugal onde os incêndios são um evento anual delicado é realmente valioso existir um serviço como aquele que é disponibilizado pelo Fogos.pt, que permite manter uma vigilância ativa de forma a assegurar uma proteção mais eficaz.
Esta aplicação baseia-se em dados da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) e foi criada por João Pina (programador e analista de sistemas que se dedica ao desenvolvimento de soluções open source para ajudar os cidadãos), sendo apoiada pela VOST Portugal, que ajudou a fundar a plataforma em 2018.
A VOST (Associação de Voluntários em Situações de Emergência) é uma Associação sem fins lucrativos formada em Agosto de 2018 no contexto dos incêndios de Monchique. Integrada na rede de equipas VOST Europeias, hoje é formalmente uma associação de pleno direito.
Esta entidade, além de possuir uma vertente tecnológica, inclui outras valências desde o design à gestão e comunicação, passando por agentes de proteção civil no ativo a estudantes.
Além disso procura contribuir para uma sociedade mais informada, mais preparada e mais resiliente, capaz de praticar uma cidadania ativa.
O objetivo da VOST Portugal consiste na disseminação de informação oficial durante emergências, o combate à desinformação e a criação de ferramentas tecnológicas de utilidade para as populações e, por isso mesmo, merece ser reconhecida pelo excelente trabalho que tem desenvolvido no nosso país.